O texto abaixo pode conter leve spoiler de Pânico (2022)
Como evidenciado por filmes recentes como “Halloween Kills” e “Ghostbusters: Afterlife” e “Matrix Resurrections”, pode ser complicado trazer de volta uma reunião de personagens amados de uma franquia que estreou há muito tempo. Por essa razão, foi grande o murmurinho quando anunciado que o primeiro filme Pânico, voltaria mais de uma década, depois de seu último filme, com o retorno do elenco original.
Quando Wes Craven morreu em 2015, muitos se perguntaram se veríamos outro filme Pânico, afinal, o diretor era a essência da franquia e continuar sem ele podia parecer loucura. Mas esse novo filme traz de volta o seu DNA original em uma verdadeira homenagem ao legado de Wes, e talvez não houvesse equipe melhor para assumir as funções de direção do que Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, do coletivo Radio Silence (Casamento Sangrento).

Tudo começa com a tão aguardada cena de abertura. Nela, Tara (incrível Jenna Ortega) sozinha em casa – como Drew Barrymore em 1996 – recebe a ligação no telefone fixo (ainda bem que ela tem um) do assassino que a chama para o seu jogo temático predileto. Ele sabe que ela é fã de filmes de terror, mas fica desapontado com a resposta intelectual que ela da à sua pergunta tradicional: “Qual é o seu filme de terror favorito?” Tara é parcial ao “horror elevado” como “O Babadook”. Ela gosta de suas emoções, sua referência social e camadas de significado entrelinhas.
Quando o assassino lhe faz uma pergunta que ela não consegue responder ela grita, em desespero: “Pergunte-me sobre ‘Corrente do Mal’! Pergunte-me sobre ‘Hereditário’! Pergunte-me sobre ‘A Bruxa’!” E assim se inicia Pânico, com um prelúdio sobre o debate de fãs do gênero sobre o que é considerado terror ou não.
E as referências não param por ai, Pânico não apenas inclui menções a Jordan Peele, “o cara de Entre Facas e Segredos”, Halloween e Psicose, mas todo o enredo gira em torno de analisar os detalhes de vários filmes de terror recentes. Dessa forma, ele evita que novos públicos não consigam acompanhar, enquanto também lisonjeia os fãs de longa data que estão prestando atenção o tempo todo.
Então, Ghostface sai do esconderijo e ataca Tara, mas diferente dos filmes anteriores da franquia, ela sobrevive, e logo voltamos a Woodsboro, Califórnia. Lá somos apresentados ao seu grupo de amigos e consequentemente suspeitos, afinal, o assassino “é sempre alguém que você conhece“

A irmã de Tara, Sam (Melissa Barrera), há muito tempo distante, chega com seu namorado Richie (Jack Quaid) e revela um segredo sombrio sobre sua conexão com os assassinatos originais. Depois de algumas consultas com o grupo de amigos de Tara, Sam pede ajuda ao policial veterano Dewey Riley (David Arquette), cujo envolvimento traz Sidney Prescott (Neve Campbell) e Gale Riley (Courteney Cox), o trio mais aguardado pelos fãs.
Com os chamados “personagens legados” – familiares dos personagens originais – o filme revisita os eventos anteriores, mas apresenta novos rostos importantes. Embora o conceito de incluir uma nova geração nem sempre é bem executado nesses filmes, em Pânico não há nenhum desempenho ruim no novo elenco. Apesar do peso em dividir tela com personagens conhecidos e amados, são os “novatos” que fazem a maior parte do trabalho.
Destaque para a personagem de Jasmin Savoy Brown que entrega uma das melhores cenas do primeiro Ato. Mindy, obcecada por filmes de terror – assim como seu tio Randy – e principalmente pela franquia “Stab”, ela explica à todos que eles estão basicamente em um novo filme da franquia, e entrega um monólogo brilhante dissecando as diferenças entre sequências, reboots e “requels” (junção de sequel com reboot), ainda reconhecendo que o único filme “Stab” (Leia-se Pânico) realmente bom foi o primeiro.
Em outro momento divertido da personagem, ela está assistindo “Stab” na TV, dizendo ao personagem (inspirado em seu tio Randy) para se virar, pois o assassino está bem atrás dele, enquanto isso ela está repetindo a cena sem que perceba, sentada em um sofá com Ghostface logo atrás dela.

A metalinguagem, como sempre, é uma forte característica da franquia, mas aqui ela é usada para se autossatirizar e ainda mandar um recado aos fãs tóxicos: “Podemos fazer o que quisermos”. O certo foco em passar uma mensagem ao fandom não é a toa, a internet deu origem a uma nova cultura de fãs, eles são aficionados pela produção original mas também desejam uma sequência baseada somente em suas ideias. E quando as coisas não acontecem da forma que eles querem… bem, vocês sabem como as pessoas na internet podem ser cruéis.
Pânico sabe disso mais do que nunca, e desdenha do fanservice que ele mesmo cria. Propositalmente, o longa também se diverte com os clichês de filmes de terror, seja com uma cena em um hospital que “fecha” no meio da noite, deixando uma vítima ferida e sozinha à mercê do assassino que voltou para terminar o trabalho; ou as expectativas de que por trás de cada porta e em cada espelho teremos um “susto”, ou até alguns personagens dizendo que vão fazer o que vítimas em potencial de um filme de terror nunca fazem: entrar no carro e dar o fora da cidade.

Este novo Pânico é de longe o filme mais violento e sangrento da série, mas as facadas vívidas e as enormes poças de sangue, diferente de outros filmes de terror, não estão aqui para nos distrair de deficiências no enredo, pelo contrário, apenas se adéquam ao desejo do público pelo gore.
Talvez o aspecto mais bem-sucedido desse filme – e o mais impressionante – é que ele te deixa animado para um futuro da franquia que pode nem exigir o envolvimento de Sidney Prescott para ser potencialmente bom. Este é o melhor Pânico desde o primeiro Pânico.
Pânico estreia nos cinemas em 13 de janeiro.