Texto por Bruna Berlitz

“A Scandal in Paris” é um filme baseado na história de Eugène-François Vidocq, um famoso criminoso e criminalista francês. A vida de Vidocq inspirou diversos livros de escritores, como Victor Hugo (para a construção dos personagens Jean Valjean e Javert de “Os Miseráveis”), Edgar Allan Poe e Conan Doyle. Por isso, o longa dirigido por Douglas Sirk exibe uma abordagem mais biográfica, contando com uma narração do próprio protagonista, e resume como foi o início de sua vida.

O filme lida muito bem com a relação da dualidade humana, utilizando diversas situações para comentar sobre isso. Como quando comunica sobre a existência do bem e do mal em todos nós, expressos na figura de São Jorge. E isso funciona tanto na questão narrativa, que evidencia as características dos personagens, quanto no contexto geral dessa ideia da dualidade. A própria pintura da igreja no filme, contém o santo combatendo uma entidade maligna, fazendo essa sugestão de dois lados distintos. E ainda literalmente a personifica quando acompanhamos a jornada de Vidocq com seu parceiro de crime.

A Century of Carole Landis Blogathon — A Scandal in Paris (1946) – Musings  of a Classic Film Addict

É interessante como esse jogo de intenções e emoções também é passado para quem estaria do lado “honesto” da história. Pois, Therese se sente atraída por Vidocq mesmo sabendo de seus deméritos. O mesmo acontece com Loretta, que começa sendo uma vítima na história, e depois pratica do mesmo crime que já sofreu. Essa desconstrução da integridade dialoga muito bem com a ideia da dualidade proposta.

E por fim, a redenção que elabora esse ciclo entre bem e mal. Da mesma forma como Vidocq cometeu erros, ele tenta por vezes consertar e se redimir. Só é uma pena que o filme destoa um pouco de sua proposta quando assume um tom mais cômico que não combina com a proposta, e se arrasta em momentos que poderiam ser mais decisivos.

O filme estreia hoje no catálogo do Belas Artes À La Carte