Texto por Marianna Straccialini

Deserto Particular foi o filme escolhido para representar o Brasil no Oscar como melhor filme estrangeiro. Sua história não poderia ser mais importante: Daniel (Antonio Saboia) é um policial que está afastado do cargo por ter sido filmado agredindo um cadete. A palavra-chave aqui é “filmado”, já que em determinado momento, ele é questionado sobre não ter percebido o celular que o gravou, e não por ser capaz da agressão. 

Acompanhamos seu cotidiano enquanto aguarda o julgamento: depois do fim de seu noivado, Daniel passa a trocar mensagens virtuais com outra mulher. Além disso, a dificuldade financeira o obriga a aceitar um trabalho como segurança, tudo isso ao mesmo tempo em que cuida do pai idoso em casa.

Gradativamente, vamos entendendo que a mulher com quem ele se comunica, parou de respondê-lo, e vemos Daniel perdendo sua única base na vida. A história caminha para que ele largue tudo e atravesse o país, de Curitiba até Sobradinho, na Bahia, em busca de Sara.

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Sara também tem seus desertos particulares, e compreendemos que essas personagens, apesar de estarem em pólos opostos de uma narrativa, buscam o mesmo: encontrar suas identidades e se permitir para o amor. Sendo uma pessoa pessimista, em diversos momentos esperei pelo pior. Ou seria eu realista demais? O final é bastante… satisfatório. Mas será que é um final possível, dentro da realidade?

“‘Deserto Particular’ é um filme de amor e acho que ele vem num momento muito salutar, em que a gente precisa construir narrativas de amor.” – disse o diretor Aly Muritiba, e é compreensível, e muito necessário. 

Ao mesmo tempo, o filme tinha em mãos uma grande chance de falar sobre a importância de cuidar da saúde mental, também um ponto delicado nessa nossa vivência pandêmica, e falhou. Principalmente se nos atentarmos às estatísticas, em que mais de 70% dos casos de suicídio são cometidos por homens. Enquanto a violência policial se tornou, em 2020, a segunda maior taxa de letalidade do Brasil, com 10% de todas as mortes registradas.

De todo o jeito, Deserto Particular é um filme sensível ao retratar as vivências LGBTQIA+, com direção e atuações impecáveis, além de uma fotografia digna da beleza brasileira. Vale a pena.

Filme visto na 45º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2021.