Falta de diversidade entre os membros da associação e as produções indicadas, além das acusações de corrupção e a baixa audiência levaram ao cancelamento da exibição da cerimônia do ano que vem

A emissora de televisão americana NBC comunicou que não irá transmitir a premiação do Globo de Ouro em 2022. A decisão foi tomada após uma série de polêmicas envolvendo a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, sigla em inglês). No Brasil, o canal de tv a cabo responsável pela transmissão, TNT, também cancelou a exibição.

“Continuamos a acreditar que a HFPA está comprometida a uma reforma significativa […] Uma mudança dessa magnitude leva tempo e trabalho, e sentimos fortemente que a HFPA precisa de tempo para fazer isso direito. Assim sendo, a NBC não vai transmitir o Globo de Ouro de 2022. Presumindo que a organização execute seu plano, temos a esperança de estar em uma posição para transmitir o
evento em janeiro de 2023″
– NBC em comunicado.

Racismo, assédio, corrupção e boicote

Os prêmios são entregues desde 1944, e há cerca de 20 anos, a HFPA não possui nenhum membro negro, segundo o Los Angeles Times.

Em abril deste ano, o ex-presidente Philip Berk foi expulso, também por pressão da NBC, devido ao vazamento de um e-mail, no qual chamava o Black Lives Matter de “movimento de ódio”. Em 2018, Berk foi acusado de assédio sexual, ao apalpar o bumbum do ator Brendam Fraser (A Múmia).

Sobre a corrupção, a Paramount Network é acusada de comprar a indicação da série Emily em Paris, presenteando os membros da HFPA com uma viagem e hospedagem cinco estrelas em Paris. A indicação da série em Melhor Comédia ou Musical em 2021, foi bastante criticada e até uma surpresa para a roteirista Deborah Copaken.

Além disso, estúdios como a Netflix, Amazon, e Warner estão boicotando a premiação. E só voltarão a submeter suas produções quando ocorrerem mudanças sinceras e significativas no Globo de Ouro.

O ator Tom Cruise se juntou ao boicote, devolvendo suas estatuetas de Melhor Ator e Melhor Coadjuvante Masculino de volta à organização, segundo o portal Deadline. Mark Ruffalo (Hulk) também se pronunciou através das redes sociais:

“É desanimador ver a HFPA, que ganhou proeminência e lucrou muito com seu envolvimento com cineastas e atores, resistir à mudança que está sendo solicitada a eles de muitos dos grupos que foram mais privados de direitos por sua cultura de sigilo e exclusão. Agora é a hora de intensificar e corrigir os erros do passado. Honestamente, como um vencedor recente de um Globo de Ouro, não posso me
sentir orgulhoso ou feliz por receber este prêmio. Nossa indústria está abraçando a oportunidade de maior igualdade neste belo momento. Não é perfeito e há muito esperado, mas está claro o que deve acontecer e como. O Movimento de Justiça está oferecendo a todos nós, à HFPA e a todas as outras entidades de entretenimento, um bom caminho a seguir
[…]”. -Mark Ruffalo via Instagram.

Scarlett Johansson (Viúva Negra) declarou a Variety que não participa das entrevistas da associação, por conta dos comentários sexistas e os membros envolvidos com o assédio sexual.

A produtora Shonda Rhimes (Bridgerton) e a cineasta Ava Duvernay (I May Destroy You) também compartilharam experiências negativas com a associação, as quais mesmo com grande sucesso.

Reação às polêmicas

O cancelamento da transmissão causa um prejuízo de 60 milhões de dólares à HFPA. Em resposta, a associação divulgou hoje (11) um cronograma de mudanças, que inclui: revisar e aprovar um novo código de conduta em consulta com publicitários e estúdios, continuar a busca por novos candidatos a membros em potencial e começar a busca por um executivo responsável por diversidade, equidade e inclusão.

“Convidamos nossos parceiros do setor à mesa para trabalhar conosco na reforma sistêmica que está muito atrasada, tanto em nossa organização quanto no setor em geral” – HFPA em comunicado.

As acusações de racismo foram feitas em fevereiro de 2021, poucos dias antes da cerimônia deste ano, que ocorreu normalmente, seguindo os protocolos contra á covid-19.

O Globo de Ouro tem o histórico de ignorar filmes e programas de televisão dirigidos por negros e minorias. Veja alguns:

● Destacamento Blood
● Judas e o Messias Negro
● Olhos que condenam
● I May Destroy You
● Watchmen
● Lovecraft Country
● CORRA!
● Uma noite em Miami
● Queen & Slim