Indicado ao Oscar de Melhor Filme, ‘Bela Vingança’ traz as diversas faces das consequências da cultura do estupro
Não estamos falando de só mais um filme sobre vingança.
Com a conquista do espaço com o movimento #MeToo em Hollywood, diversos filmes trouxeram a tona a dor das mulheres diante das denúncias de abuso e assédio que muitas delas sofreram e ainda sofrem, não só na indústria cinematográfica, mas em diversos ambientes.
Alguns exemplos recentes são “A Assistente”, “O Escândalo” (sobre um caso real) e agora, “Bela Vingança”, que traz em foco a cultura do estupro nos campus das principais universidades dos EUA.
Sabendo que trazer de cara um assunto tão tenso poderia dar um certo ‘spoiler’ do objetivo do enredo, Emerald Fennel (estreia como cineasta e assina também o roteiro da obra) camuflou sua intenção em uma sinopse, título e pôster que indica apenas mais um filme sobre vingança, onde uma mulher decide atrair e partir para cima de todos os caras que se aproveitam de garotas bêbadas em baladas (não espere violência gráfica). Vai me dizer que essa premissa não é no mínimo interessante?
Mas na segunda parte do filme começamos a entender que existe uma raiz para todos os acontecimentos, não se trata apenas de uma produção de humor ácido com uma personagem femme fatale.
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Carey Muliigan consegue transitar nas várias fases de uma mulher ferida. Temos a personagem principal, Cassandra, colocando o seu “uniforme” de ataque (as roupas provocativas e sensuais para atrair olhares dos assediadores), mas também nos deparamos com uma versão da personagem que largou mão da carreira e planos de vida, mora com os pais e parece ter uma forte ligação com alguns objetos aleatórios, desde um caderno onde ela planeja seus próximos passos, até um elástico de cabelo que ela parece conversar. A partir daqui, somos levados a pensar, qual a real razão de tudo isso?
A trajetória de um personagem que carrega memórias trágicas e que busca achar os culpados pelo seu sofrimento não seria um enredo inédito, se não fosse pelo fato de ser uma mulher no papel principal, e um tema tão forte e atual.
Em uma trama que parecia seguir um arco de adrenalina e vingança, há uma pausa, alguns minutos onde Cassandra parece ter encontrado o amor, em uma sequência de cenas digna de qualquer comédia romântica. Se o filme tivesse acabado aqui, satisfazendo boa parte dos espectadores, não teríamos “Bela Vingança” entre os principais indicados ao Oscar, incluindo Melhor Filme.

Ryan, o de início, paciente e apaixonado namorado de Cassandra, na verdade, é a representação de um machismo camuflado na sociedade, aquele em que os homens são convenientes aos estupros, assédios e abusos praticados por outros homens. O filme aqui deixa uma mensagem: é necessário que os próprios homens se posicionem em seu meio social contra a cultura do estupro.
Por fim, “Bela Vingança” chega ao ápice do enredo, com um plot twist no mínimo revoltante, e mais do que trazer pautas importantes sobre mulheres silenciadas, é preciso mostrar finais na ficção que se assemelham àqueles da vida real. Onde nem sempre acontece o que esperamos, e principalmente, não é possível vencer uma luta sozinha.
Ficha técnica:
Título | Promising Young Woman (Original) |
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Ano produção | 2020 |
Dirigido por | Emerald Fennell |
Estreia | 8 de Abril de 2021 ( Brasil ) Outras datas |
Duração | 113 minutos |
Classificação | 16 – Não recomendado para menores de 16 anos |
Gênero | Drama Thriller |
Países de Origem | Estados Unidos da América |
Sinopse
Anos atrás Cassie (Carey Mulligan) largou a faculdade de medicina devido a um trauma sofrido por Nina, sua melhor amiga e colega de curso. Agora, trabalhando numa cafeteria durante o dia, a moça dedica as noites de sexta a visitar boates e encurralar rapazes que se aproveitam de sua suposta embriaguez para fazerem o que quiser com ela.