Já aconteceu com todos nós: assistir a um filme de início super divertido e no final acabarmos decepcionados. Por que isso acontece? Uma das possibilidades é que, no filme, tenha ocorrido o que chamamos de Deus ex machina. Vem entender o que é!

Origem

Deus ex machina foi um recurso inventado na antiguidade, no teatro grego e se trata de uma solução ou uma saída para uma situação aparentemente irresolúvel.


Em tradução literal, significa: “Deus surgido da máquina”.
A máquina em questão consistia em um instrumento mecânico, como um guindaste, que, muito utilizado na tragédia clássica, apresentava subitamente, descendo ao palco, uma representação de um deus ou de uma divindade.

Na cena que irrompe, a divindade trazia com ela uma resolução fácil para os conflitos da história, servindo, então, para dar uma justificativa plausível para os acontecimentos, numa tentativa de juntar as pontas deixadas sem solução na elaboração da peça.


Críticas

Esse recurso, utilizado e criticado desde a antiguidade, conta com críticos de renome, como Friedrich Nietzsche, que argumenta contra a falsa sensação de consolo criada pelo deus ex machina; Aristóteles, na famosa “Poética” e por Antiphanes, poeta cômico e um dos escritores mais importantes do Oriente, em tradução livre:

Atualmente, o fenômeno pode ser identificado em qualquer tipo de narrativa: na literatura, no teatro, na TV, nos jogos ou no Cinema. Fruto de críticas negativas, o termo deus ex machina vem sendo utilizado para designar uma resolução forçada dos acontecimentos numa obra.

Mas qual é o problema desse recurso? O que causa?

A utilização deste nos dá a impressão de que o escritor, dramaturgo, showrunner ou roteirista foi incapaz de finalizar de forma lógica e proveitosa os conflitos e as construções propostas em seu texto. Nos filmes de ficção, principalmente na ficção científica, é severamente prejudicada a suspensão da descrença (capacidade de suspender as faculdades críticas e a lógica; se propor a acreditar em algo surreal em prol da diversão), e com ela a experiência e o envolvimento com a obra.

Há, também, os tipos de deus ex machina:

Total: Quando surge um elemento que não foi de forma alguma mencionado anteriormente, aparecendo sem explicação lógica.
Um exemplo prático disso seria uma comédia romântica na qual a protagonista está atrasada para um vôo, e, descendo de casa para a rua, passa o carro de um taxista, que por “coincidência” é seu amigo (mesmo que nunca tenha aparecido ou sido mencionado na história) e este o leva para o aeroporto, salvando o dia.

Tempo e Localização lógicos: Quando o elemento foi apresentado previamente mas aparece sem explicação em outro local improvável.
Um exemplo prático disso seria se nessa história da protagonista que necessita chegar ao aeroporto, o taxista que a busca já tivesse sido mencionado, mas que este morasse em outro país ou fosse um amigo antigo que nem teria como saber aonde a amiga morava. Esse uso do personagem seria, portanto, ilógico, mesmo que soubéssemos que ele existia.

Cortar e Colar: Quando o autor, para disfarçar o Deus ex machina, volta em algum ponto da história para explicar o aparecimento da solução, adicionando alguma informação, mas o desfecho, ainda assim, é forçado e não-natural.
Um exemplo prático disso seria se, na nossa história, já tivéssemos mencionado o amigo taxista, mas que o personagem não tivesse mais nenhum outro papel ou relevância na história.
Basicamente, se só apresentássemos o personagem que não teria mais nenhuma relevância, uso ou aparição na trama, até surgir para salvar o dia.


Exemplos de Deus ex machina:

Toy Story 3 (2010)

Os brinquedos de Andy estão quase caindo no incinerador de lixo. Quando eles aceitam que não tem chance de sobreviver e se dão as mãos, aparecem os bonecos marcianos controlando um guindaste (no momento exato de necessidade) que os tira de lá e os salva.

Os Vingadores (2012)

Sabemos que o cientista Bruce Banner vira o incrível Hulk em momentos de tensão e raiva. Porém, mesmo em situações de perigo, é comum que o cientista não consiga se transformar no herói, porque sua transformação depende de alguns fatores. No entanto, em uma cena de Os Vingadores (2012), num momento sem solução, em que um alien destruidor aparece, Bruce diz para Capitão América que sua transformação é garantida, porque seu segredo é que está sempre com raiva. A partir disso, se transforma em Hulk em questão de segundos e salva a todos. Isso é inverossímil justamente porque a construção prévia do personagem já havia nos explicitado que sua transformação não ocorre tão facilmente, o que é provado nos outros filmes com o incrível Hulk.

Avatar (2009)

Durante todo o filme, é mostrada a disputa entre os humanos e a raça nativa Na’vi pelo controle do planeta Pandora e seus recursos. Porém, quando os humanos estão quase dizimando os Na’vis com suas armas colossais e sua tecnologia destruidora, a vida selvagem de Pandora começa a ajudar os nativos e se mostra tão poderosa, que, juntos, conseguem derrotar os invasores humanos.

E aí, sua mente também explodiu 🤯🤯🤯? Já começou a pensar se o Deus Ex Machina está presente em todos os seus filmes favoritos?


Referências

https://www.spescoladeteatro.org.br/noticia/ponto-afinal-o-que-e-o-deus-ex-machina/amp/


https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/deus-ex-machina/

https://pt.qwe.wiki/wiki/Deus_ex_machina

https://pt.qwe.wiki/wiki/Antiphanes_(comic_poet)

https://pt.qwe.wiki/wiki/Suspension_of_disbelief

https://www.nintendoblast.com.br/2011/07/deus-ex-machina-prejudicando-historias.html?m=1

https://m.desciclopedia.org/wiki/Deus_ex_machina#Tipos_de_Deus_Ex_Machina

https://supercinemaup.com/entenda-o-deus-ex-machina-no-cinema/#:~:text=Por%20ser%20um%20artefato%20poderoso,sem%20explica%C3%A7%C3%A3o%2C%20em%20outro%20local.

https://poltronadecinema.wordpress.com/2016/11/05/top-5-deus-ex-machina/amp/