Mesmo sem entregar o pacote completo, a Netflix deu entrada a uma nova geração de clichês de grande importância no momento em que vivemos.
Nesse novo filme da Netflix, tem tudo pra ser mais um clichê: um menino atleta quer conquistar uma garota e pede ajuda a nerd asiática da escola para escrever cartas românticas. Seria essa uma versão Sierra Burguess? Mas a diretora Alice Wu, que inspirou a trama em episódios de sua vida, já deixa claro no começo do filme que essa não é só mais uma comédia romântica, seja pela reflexão da protagonista ou pelas frases literárias sobre amor irracional, além da frase que encerra a apresentação de abertura: “Caso não tenha notado, essa não é uma história de amor, pelo menos não uma que a gente consegue o que quer”.

Mesmo tendo sido mais um filme romântico sobre adolescente que se apaixonam, Você Nem Imagina ganha uma aura cult ao trazer referencias do cinema, literatura e arte, além de ter uma fotografia com cores neutras, o que foge das características dos clichês, sempre tudo feliz e colorido. O roteiro e direção de Alice Wu chega a ser um relato pessoal, o filme, como dito aqui antes, foi baseado em momentos de sua vida pouco depois de se assumir gay, recentemente ela falou sobre isso nas redes sociais, veja abaixo:
“A primeira vez que eu tive meu coração partido não foi por uma garota, mas por um cara. Um cara hétero branco do centro dos Estados Unidos, na verdade. Se você selecionasse esse cara da multidão e dissesse ‘esse garoto será seu melhor amigo’, eu não acreditaria. Mas, às vezes você conhece uma pessoa e, por algum motivo, a ‘estranheza’ de vocês funciona junto. Ele me ajudou a me aceitar como gay em um momento da vida em que nós não conhecíamos nenhum gay – e nós dois cambaleamos no estranho campo de ‘tentar arranjar uma garota’. E ele conseguiu, para nossa alegria (pelo menos um de nós não vai morrer sozinho)… E então, desastre. A nova namorada dele estava preocupada com nossa amizade, apesar de saber que eu era gay. Então, devagar e inevitavelmente, o cálculo delicado da nossa amizade foi corroído. Eu me lembro de uma noite chuvosa, nós dois chorando no carro, eu dizendo ‘eu não entendo. Se algo fosse acontecer entre a gente, já não teria acontecido?’. E ele respondeu ‘ela não acha que a gente vá transar. Ela se sente ameaçada pela nossa amizade’. Eu sempre vou me lembrar disso. Você Nem Imagina não começou como um filme adolescente. Eu queria escrever dois melhores amigos de vinte e poucos anos, uma lésbica e um hétero, tentando entender o amor, sem nem mesmo entender a conexão entre eles. E me deparei com uma barreira: não conseguia encontrar um final (nem em 100 páginas) que parecesse satisfatório e merecido. Esse é o obstáculo de tentar escrever sobre sua vida – e você não tem a menor ideia de como fazer a vida funcionar como queria. Eu certamente não sabia como amar naquela época e eu com certeza não sei hoje em dia. Então. Joguei tudo pra cima e pensei ‘eu deveria levar a história para o colegial’. Porque apenas no colegial tudo é elevado, todo sentimento é o primeiro e, por isso, a primeira vez que você vai senti-lo, e, francamente, quando o assunto é amor, não regredimos todos para o colegial? Como normalmente acontece no meu trabalho; todo um componente Cyrano [de Bergerac, escritor francês do séc. XVII] se infiltrou e o filme se tornou outra coisa.

Voce Nem Imagina já é o primeiro em recomendados da plataforma no Brasil e em boa parte do mundo, o filme vem como um sopro de ar fresco, para a comunidade LGBTQI, ou pelo menos essa era a proposta, um clichê adolescente em que uma garota se apaixona pela outra, e ele cumpre o prometido, além de trazer a diversidade asiática que vem sendo a nova aposta da Netflix desde Para Todos os Garotos que Já Amei’ com a protagonista nascida na China, e se descobrindo, precisando daquela grana para ajudar o pai que ainda sofre no país estrangeiro. Protagonizado por Leah Lewis, a Ellie, que precisa escrever uma carta para Aster, (Alexxis Lemire), em nome de Paul, (Daniel Diemer), e ao escrever a carta ela começa a se apaixonar por Aster, e se envolvendo cada vez mais com Paul, em uma forte amizade, para ajuda-lo nos esforços para conquistar sua amada.

O filme traz momentos de amizades, literatura e descobertas, que nos fazem se sentir completamente ligados a história ao vivenciar tudo aquilo. Muitas criticas surgiram em relação ao filme, mesmo não sendo um clichê como os outros, era esperado que pelo meno o final tivesse uma emoção, ou um ‘que’ de realização, e decepciona ao seguir a linha de sempre haver obstáculos quando se trata da sigla L do LGBT, mas ainda sim vale o esforço pela amizade, literatura e frases de efeito impecáveis. A mensagem foi passada com sucesso! Cabe agora a indústria cinematográfica nos presentear com mais romances lésbicos, mesmo que clichês!