Spoilers serão sinalizados com (SPOILERS ALERTA) e (SPOILERS FINAL)
Quando se trata de usar humor como crítica social o diretor Taika Waititi sabe bem como fazer isso, afinal, como é possível rir com a representação de Adolf Hitler? É o que ele conseguiu com Jojo Rabbit, uma (de ínicio) comédia, sobre um garotinho alemão que acredita ser um nazista e fanático por Hitler, tanto, que usa a figura do ditador como amigo imaginário e conselheiro. O menino de 10 anos, vive na companhia da mãe depois da morte da irmã mais velha e da ida do pai ao fronte italiano na guerra.
Com o desenvolvimento da história é possível entender que não se trata apenas de mais uma comédia comum, Waititi faz questão de abordar em sátira, a lavagem cerebral dos jovens, a hipocrisia nazista e o retrato absurdo que é pintado do povo judeu. O que torna toda sátira ainda melhor é que o ridicularizado aqui são os ‘vilões’, a todo momento os opressores são usados na parte cômica do filme, ou seja, as ideias nazistas são tão absurdas que parecem até piada.
O título é mais simbólico do que significativo, focado no garoto, o filme tenta mostrar como seria a Segunda Guerra Mundial através do olhar de um garoto alemão. Algo que se percebe de cara também é que Jojo não sabe o que o nazismo significa, que tudo se trata de uma cultura em que ele nasceu e é obrigado a viver. O que se aproxima da realidade atual, afinal, ninguém nasce com qualquer tipo de preconceito ou ideologia.
As atuações em Jojo Rabbit são deslumbrantes, logo de cara já dá para entender o porquê de Scarlett Johansson ter concorrido ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por este papel. A sintonia com Roman Griffin Davis é singular, o menino de apenas 12 anos rouba a cena e dá aula em sua performance. Se houvesse uma categoria para Ator Mirim no Oscar, com certeza seria dele.
O figurino é extraordinário e se encaixa com a fotografia na tarefa de caracterização estilo anos 40, mas o mais interessante é notar como as roupas aqui contribuem no enredo: no uniforme de soldado nazista que Jojo deixa de usar enquanto amadurece durante o desenvolvimento do longa, os pijamas idênticos que ele e a mãe usam e que demonstra o afeto que um tem pelo outro e que permanece mesmo durante tanta tragédia, — / (SPOILERS ALERTA) os sapatos característicos da mãe que revelam sua morte trágica, cena essa que foi muito sensível e inteligente ao deixar explícito o que houve, mas sem brutalidade, o uniforme nazista que durante os minutos finais de guerra salvam a vida do pequeno Jojo, — (SPOILERS FINAL)\ dentre outros detalhes que constroem o roteiro.
Enfim, Jojo Rabbit é o equilibrio perfeito entre comédia, drama e critica social, com uma virada drástica no enredo. O filme recebeu 6 indicações ao Oscar, e mesmo que não ganhe nenhum é importante esse reconhecimento para que o assunto abordado nele não seja esquecido, e que muito menos as atrocidades não sejam amenizadas. Afinal, o nazismo ainda existe.
Jojo Rabbit (Idem, EUA/República Tcheca/Nova Zelândia – 2019)
Diretor: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi (baseado em romance de Christine Leunens)
Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson, Taika Waititi, Sam Rockwell, Rebel Wilson, Alfie Allen, Stephen Merchant, Archie Yates, Luke Brandon Field, Sam Haygarth, Stanislav Callas, Joe Weintraub, Brian Caspe, Gabriel Andrews
Duração: 108 min.
Meleka Pop 